quarta-feira, 2 de março de 2022

DELICADEZA

 

A delicadeza numa coisa brusca

é bela mas sutil,

surpreende o olho de quem viu.

É como cheiro de terra molhada,

alma lavada de exatidão,

chuva na terra seca,

molha e refresca no coração.


IRENE MADEIRO

DE A A Z

 

 De A a Z

Eu sou todas as letras.

Eu sou o branco, todas as cores.

Do primeiro ao último

eu sou todo sentimento,

eu sou o amor e suas dores.

De cheiro ao toque,

eu sou tudo que existe,

eu sou o perfume e as flores.

De cada detalhe

eu sou todas as coisas,

eu sou a fruta e seus sabores

Do carinho ao ódio,

do medo à coragem

eu sou, eu sou, onde quer que fores.


IRENE MADEIRO

quarta-feira, 31 de maio de 2017

INVICTUS - William Ernest Henley

INVICTUS

Do fundo da noite que me envolve
Escura como o inferno de ponta a ponta
Agradeço a qualquer Deus que seja
Pela minha alma inconquistável

Nas garras dos destino
Eu não vacilei nem chorei
Sob as pancadas do acaso
Minha cabeça está sangrenta, mas ereta

Além deste lugar tenebroso
Só se percebe o horror das trevas
E ainda assim, o tempo,
Encontra, e há de encontrar-me, destemido

Não importa quão estreito o portão
Nem quão pesado os ensinamentos
Eu sou o mestre do meu destino
Eu sou o comandante da minha alma

William Ernest Henley

segunda-feira, 19 de maio de 2014

POESIAS DE HORÁCIO DÍDIMO



seca

o pior é que o dia de hoje
amanhã
será ontem
sei que vocês sabem de tudo
nas não me contem
acabou-se o grande consolo
da tua voz de terra bem chovida
é a seca
eu bem que disse
é um tempo que não tem anestesia


‘’’’’’


a lâmina

cada dia que se passa
após
meticulosa
anestesia
local
a lâmina fria das circunstâncias
corta de leve
pequeninos sonhos

‘’’’’’’’’’’


a solução

daqui a cem anos
todos os nossos problemas
nos terão resolvido

‘’’’’’’’’’’


era bom

era bom começar tudo de novo
vida nova com sol e fantasia
era bom meditar de roupa nova
sem esta escuridão ao meio-dia
era bom não ficar nas coisas boas
era bom que depois fosse esquecendo
era bom que os relógios não parassem
que as coisas sem fim continuassem
era bom que quando fosse bom
fosse bom de uma vez
ou nunca fosse

‘’’’’’’’’’


as coisas

as coisas não acontecem
como a gente quer
nem mesmo como a gente
não quer
as coisas nunca pedem
a nossa opinião

‘’’’’’’’’’’’’’’’


o meu o teu e o nosso coração

cada mania
tem o seu doido
de estimação

‘’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’


os fantasmas

à noite
todos os dedos
são dardos
todos os passos
são tardos
todos os matos
são cardos
todos os bêbados
são bardos
todos os gatos
são leopardos

‘’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’


identidade

um dia
com a ajuda de Deus
não haverá mais diferença
entre mim e eu

‘’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’

momento

a  verdade súbito entrevista
no lugar comum
o vazio luminoso abrindo o caminho
de repente
a oração onde antes havia
o oco barroco
do coração
a graça de poder sentir
a vida a vida a vida
somos subitamente nós
depois de tanto tempo

‘’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’


0 tigre de bengala o leão de peruca e a tartaruga que
era um passarinho disfarçado

todos nós somos iguais
uns menos outros mais


‘’’’’’’’’’’’’’’’’’’’


o sol existe

ainda que seja noite
o sol existe
por cima de pau e pedra
nuvens e tempestades
cobras e lagartos
o sol existe
ainda que tranquem o nosso quarto
e apaguem a luz
o sol existe

sexta-feira, 16 de maio de 2014

ATESTADO DE IDENTIDADE - AIRTON MONTE



               Que tudo fosse mais fácil na vida da gente quisera eu, quando em vez, só pra variar. Coisas como o fazer, o gozar, o sofrer, o desejar. Sonhos pequenos não me bastam, porque me apequenam. Chega demover meu desejo apenas no limite estreito do possível.
              Nem sempre o mundo é uma coisa e eu outra. No entanto, faço questão de permanecer uno e, em certas situações que só a mim dizem respeito, indevassável dentro de mim mesmo, apesar das bandeiras das linguagens do corpo, inclusive o discurso.
               Súbito, me aparecem asas e voo, de preferencia sobre abismos. Há em mim a fascinante vertigem dos precipícios. Dirão de mim, e pouco me importa, que não passo de um hiperbólico visionário ou um onirómano sem remissão. E daí? Sou eu quem pago o preço.
               Pouco me interessam esses desertores da fantasia, que só acreditam no toma lá da cá, de todo dia. Homens ocos que se assustam com seu próprio eco.
               Careço de algo mais que o prosaico feijão-com-arroz cotidiano, de viver encarcerado entre o relógio de ponto e o pijama de listras. Não me satisfazem apenas casa, comida, roupa lavada, familia, trabalho, dinheiro no banco.
                Quero algo além disso que não se¡ bem o que seja. Felicidade será? Essa entidade definida como paz de espírito? Significará a domesticação dos sentidos? Se for isso, tô fora,meu chapa.
               Meu caminho não se orienta para deuses nem demônios. Minha bússola sou eu, que me guio, me perco, me acho descendo aos meus infernos ou ascendendo aos meus paraísos, embora artificiais.
               Sou chuva e sou planta, trigo e moinho, faca e flor, aquele que age e o que observa. Assim me divido e colo meus pedaços feito espelho e imagem.
               Estar e ser, eis a questão. Estou e sou, cada vez mais louco, mais lúcido, apenas isso. Digo e repito, até acreditar que eu sou eu sem qualquer dúvida e pronto. Manjo disso.
50.01.2002
 MOÇA com FLOR NA BOCA _ CRÔNICAS ESCOLHIDAS

quarta-feira, 5 de março de 2014

NÓS




Eu sou gêmea de mim mesma,
mas não idêntica,
diferentemente diferente,
personalidades contrárias.
Nós somos outra pessoa.

Irene Madeiro
Depois do Sol

sábado, 1 de março de 2014

SOBRE A FELICIDADE




         

Talvez eu não seja a melhor pessoa para dar esse conselho. Mas mesmo assim quero dá-lo porque é uma coisa que se aprende com o tempo e eu realmente aprendi, apesar de não conseguir viver na prática. EU SEI.
Sobrinha, como eu já te disse, e vou dizer muitas vezes, provavelmente: a felicidade está dentro de nós. Essa é uma frase tão repetida que já não faz muito sentido, parece uma bobagem de livro de autoajuda. Mas não é. Porque tudo nesse mundo torto nos faz acreditar no contrário; na TV, a propaganda nos diz que pra ser feliz é preciso de dinheiro, dinheiro pra comprar roupas, eletrodomésticos, carros, joias, viagens, isto é, tudo que for vendável. Claro que eles querem que nós acreditemos nisso, eles querem ganhar dinheiro, porque eles também acreditam que o dinheiro é o mais importante.
Livros e filmes e músicas nos dizem que só podemos ser felizes se tivermos um grande amor, desses que só existem nesses mesmos livros, filmes e músicas. Além disso, a própria sociedade diz que não se pode ser feliz sozinho, as pessoas tem pena de você se for solteiro. Não tem pena da mulher que é casada e tem que aguentar agressões, físicas ou verbais, ou que tem que sustentar uma família com muito sacrifício, que trabalha fora e depois que chega em casa tem que cuidar da casa, dos filhos, do marido... não tem pena das mulheres casadas com bêbados, drogados, inúteis, problemáticos, ciumentos, etc. Só não se pode ficar sozinho. Até a palavra sozinho já tem uma conotação de tristeza.
Mas detrás de todas essas coisas e com o tempo, algumas pessoas conseguem chegar à verdade: a felicidade está dentro de nós. O dinheiro pode ajudar com a felicidade, pode ajudar poder fazer umas viagens que você tanto quer, pode comprar umas coisas legais. Algumas pessoas também podem ajudar, mas só ajudar, elas não trazem felicidade, elas não tem essa capacidade. Só nós mesmos podemos ser felizes. Por nenhum motivo, por nada. A felicidade é tão simples, tão simples... acordar e ouvir pássaros, ver o sol nascer de novo e a vida se renovar, olhar a bela criação que é a natureza: o mar, o céu, a montanha, o pássaro, as árvores... No dia que for feliz só com isso saberá o que é e onde está a felicidade. Mas, às vezes, por mais que se saiba não se consegue sentir, então todo dinheiro do mundo é inútil e ninguém, por mais que você ame e seja amado te fará sentir feliz.