domingo, 19 de dezembro de 2010

MAIS JOHN KEATS


Endymion (trecho)

O que é belo há de ser eternamente
Uma alegria, e há de seguir presente.
Não morre; onde quer que a vida breve
Nos leve, há de nos dar um sono leve,
Cheio de sonhos e de calmo alento.
Assim, cabe tecer cada momento
Nessa grinalda que nos entretece
À terra, apesar da pouca messe
De nobres naturezas, das agruras,
Das nossas tristes aflições escuras,
Das duras dores. Sim, ainda que rara,
Alguma forma de beleza aclara
As névoas da alma. O sol e a lua estão
Luzindo e há sempre uma árvore onde vão
Sombrear-se as ovelhas; cravos, cachos
De uvas num mundo verde; riachos
Que refrescam, e o bálsamo da aragem
Que ameniza o calor; musgo, folhagem,
Campos, aromas, flores, grãos, sementes,
E a grandeza do fim que aos imponentes
Mortos pensamos recobrir de glória,
E os contos encantados na memória:
Fonte sem fim dessa imortal bebida
Que vem do céus e alenta a nossa vida.

" Soneto "
                             

Quando fico a pensar poder deixar de ser
antes que a minha pena haja tudo traçado,
antes que em algum livro ainda possa colher
dos grãos que semeei o fruto sazonado;

quando vejo na noite os astros a brilhar
- vasto e obscuro Universo, impenetrável mundo! -
quando penso que nunca hei de poder traçar
sua imagem com arte e em sentido profundo;

quando sinto a fugaz beleza de alguma hora
que não verei jamais - como doce miragem –
turva-se a minha mente, e a alma em silêncio chora

um impulsivo amor. E a sós, me sinto à margem
do imenso mundo, e anseio imergir a alma em nada
até que a glória e o amor me dêem a hora sonhada!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

JOHN KEATS

Acabei de comprar um livro de poesias de John Keats. Você sabe quem é? Eu não sabia.

É um poeta inglês que nasceu em 1795 e morreu em 1821, com 25 anos. Ótimo poeta, por sinal. Como tudo que vem da Inglaterra, é comparado a Shakespeare, diz-se que se tivesse vivido mais o teria superado. Na minha opinião não foi necessário viver mais.
Mas, como descobri John Keats? Em um filme.
Estava lá eu, assistindo a um drama que era sobre um jovem poeta pobre que se apaixona por uma moça também pobre, e que não podem ficar juntos porque não tem como se manter naquela época. Cheio de declamações de poesias lindas, comecei a desconfiar que o filme devia ser baseado em fatos reais ou coisa parecida. Dito e feito. Quando terminou o filme que procurei saber mais, na internet, sobre o filme e o poeta, se confirmou minha suspeita.
O nome do filme, "Bright Star", é o nome de uma poesia que John fez para sua amada. A poesia foi traduzida por "Astro fulgente" ou "Estrela cintilante", mas o filme para chamar mais a atenção foi traduzido por " Brilho de uma paixão", o que foge a ideia original de seguir o nome da poesia.
Falando nela, ei-la:

Astro Fulgente

Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente!
Não suspenso da noite com uma luz deserta,
A contemplar, com a pálpebra imortal aberta,
Monge da natureza, insone e paciente
As águas móveis na missão sacerdotal
De abluir, rodeando a terra, o humano litoral,
Ou vendo a nova máscara – caída leve
Sobre as montanhas, sobre os pântanos – da neve,
Não! mas firme e imutável sempre, a descansar
No seio que amadura de meu belo amor,
Para sentir, e sempre, o seu tranqüilo arfar,
Desperto, e sempre, numa inquietação-dulçor,
Para seu meigo respirar ouvir em sorte,
E sempre assim viver, ou desmaiar na morte.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

INDO EMBORA


Um cavalo perdido no tempo

comendo capim.

Uma noite escura, tão densa

de estrelas sem fim.

Estrada de areia, de vento

de rumo, sem rua.

Caminho de sonho, saudade

de escuro sem lua.

IRENE MADEIRO

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

RESTIAS


Rosto.

Réstia.

Resto de sombras da noite,

esconde na penumbra

tantos gostos

tantas almas libertadas

que se somem com o sol

depois da madrugada.


IRENE MADEIRO



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

LUA


Luarada

Lua amada

Amor de lua

Amor sou tua

Tua lua

Lua nua

No céu escuro.

IRENE MADEIRO



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

URBE


O mar de carros

atravessa a cidade

partindo-a em uma,

duas, milhares de pedaços.

Minhocas, formigas,

algum animal

invade o centro

e ultrapassa o sinal

vermelho, verde,

azul, coisa e tal.

O mar de carros

inunda nossa vida,

afoga os nossos passos

aos maços,

aos montes,

em traços de luz.

Fumaça espessa

atravessa

os pulmões

e atropela

nossas ilusões

de paz.

  IRENE MADEIRO

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

TEU NOME


Escrito no céu,

o teu nome

paira,

perfumando o ar,

tirando o meu ar,

traduzindo amar.

Tua imagem,

miragem em meus sonhos,

atravessa os tempos,

a realidade

e mora no infinito

do meu peito

de um jeito

tão forte

que a morte

de tudo

é no fundo

impossibilidade.

Ai que saudade

do que não era,

do que não foi

e não será.

Virá um dia

sem ti,

sempre sem ti,

tão longo,

enorme,

sem fim.

Ai de mim,

a dor

sem amor

é opaca,

obscura,

sem sentido.

Virá um dia,

outros dias,

tantos

e quantos

existir

sem ti.

 
IRENE MADEIRO

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

CÉU AZUL


Deixe o azul no céu,

Eu gosto de azul.

Deixa o mar salgado

E molhado como está.

Deixa a escuridão ser negra

E a manhã ser dourada.

Deixa os espinhos nas rosas,

O vermelho no sangue.

Deixa o vento bater nos cabelos

E refrescar,

E o sol iluminar,

E a lua no céu,

As estrelas.

Eu gosto de brilhos.

Eu podia ser estrela,

Sem pensamentos,

Sem desejos de ser grande.

Grande coisa ser maior.

Eu podia ser estrela,

Pedra brilhante no céu,

Sem olhos, nem boca,

Nem sonhos,

Apenas brilho.

Eu gosto do azul do céu.

Deixa o céu ser azul.

 
IRENE MADEIRO